Ela não se move: o que escapa à história também existe realmente (2021)
Tripla projecção de vídeo, c/ som, dimensões variáveis, 11:15 min (excerto);
“Ela não se move” é resultado de uma investigação teórico-prática que parte da vida vegetal para pensar a relação entre humanos e outras formas de existência. A tradicional visão ocidental baseada na separação entre cultura e natureza torna-se cada vez mais desajustada para pensar as complexas relações entre os corpos, vidas, sistemas e ambientes que informam a Terra hoje. Ao afastarmo-nos de uma visão antropocêntrica do mundo, a própria ideia de natureza revela-se como porosa - uma que oscila, que varia, que se constrói e desconstrói a partir de múltiplas e multiespécies intervenções, gerando realidades mais ou menos efêmeras. Neste contexto, o humano, o vegetal, o animal e a máquina necessitam ser pensados não como categorias estanques mas sim híbridas, que se contaminam mutuamente gerando novas estranhezas e complexidades. Quando a cultura tem a capacidade de tudo absorver, aquilo a que chamamos de “realidade” ou “natureza” poderá ser expandido ao ponto de incluir a presença das tecnologias digitais que tendem a interferir e a incorporar-se nas paisagens, nas actividades e nas vidas dos mais variados organismos vivos.
Divergindo de uma certa centralidade homogeneizadora e sugerindo uma visão do mundo que compreende a complexa rede de relações e de continuidades entre potências bióticas e abióticas, entre humanos e não-humanos e entre aquilo que é virtual e aquilo que vive, pretende-se aqui pensar os modos a partir dos quais as tecnologias digitais e virtuais funcionam como mediadores nas relações entre humanos e outros organismos vivos.
Projecto de Mestrado em Artes Plásticas pela FBAUP e apresentado no Parque das Águas do Porto. Som produzido em colaboração com Henrique Costa